[Dica de leitura] Como as estrelas do céu

Como as estrelas do céu: A historia do menino 537 | por Ester Roffê

Minha opinião

Como as estrelas do céu é um daqueles livros a leitura é intensa e, ao mesmo tempo, terna, que dói, acolhe e transforma. Um livro que fala de sofrimento, mas sem perder de vista a luz.

A narrativa constrói uma trajetória marcada por perdas irreparáveis e experiências que dilaceram a alma. Skyler é um personagem ferido pela vida, carregando cicatrizes profundas que o leitor sente quase na própria pele. Seu caminho é feito de ausências, abusos e situações angustiantes, narradas com honestidade emocional e sensibilidade.

Ainda assim, o que mais impressiona não é apenas a dor, mas o modo como a autora a envolve com esperança. Em meio ao caos, surgem pessoas que entram na vida do protagonista como verdadeiros anjos, instrumentos de Deus para cumprir propósitos invisíveis, porém essenciais. A fé não aparece aqui como discurso raso ou solução mágica, mas como sustentação silenciosa, como força que mantém o coração vivo quando tudo parece perdido.

A escrita de Ester Roffê é fluida e profundamente reflexiva. Cada capítulo aumenta a expectativa pelo próximo, criando uma leitura quase impossível de interromper.

A obra aborda temas duríssimos como tráfico humano e abuso, mas sem recorrer à exploração do sofrimento. Pelo contrário: há respeito, humanidade e uma tentativa sincera de restauração. Fé e redenção surgem como fios invisíveis costurando uma história que poderia ser apenas dor, mas se transforma em resistência e amor.

O livro nos tira da zona de conforto e nos confronta com uma verdade incômoda: estamos perdendo a capacidade de sentir o outro. E esta narrativa surge como um lembrete urgente de que precisamos, mais do que nunca, de empatia, humanidade e compaixão.

Como as estrelas do céu é uma história sobre milagres, não aqueles que caem do céu como espetáculo, mas os que nascem na resistência de continuar, na escolha de amar apesar de tudo, na fé que insiste quando o mundo desmorona.

Um livro forte, mas cheio de ternura. Doloroso, mas profundamente esperançoso. Daqueles que não apenas se leem, mas nos atravessam.