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[Dica de leitura] O Estrangeiro, de Albert Camus

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O Estrangeiro, de Albert Camus — uma leitura rápida que se expande por dentro


O Estrangeiro é daqueles livros que a gente atravessa com facilidade, mas que seguem reverberando muito depois da última página. A escrita de Camus é direta, quase minimalista, e justamente por isso abre espaço para uma profundidade incômoda, especialmente quando toca na morte e no absurdo da existência.


Minhas impressões se concentraram muito em Meursault, esse protagonista que parece olhar o mundo por trás de um vidro frio. Há uma distância constante entre ele e a vida, como se nada realmente o alcançasse. Em vários momentos, senti que sua frieza beira um distúrbio, não pelo julgamento moral, mas pela estranheza de ver alguém atravessar acontecimentos tão decisivos (a morte da mãe, um assassinato, um julgamento) quase sem reagir. É desconcertante. E talvez seja essa a força do livro.


A morte, para Camus, não é só um tema: é o eixo. Cada gesto de Meursault parece nos lembrar do caráter inevitável e muitas vezes absurdo do fim. E, à medida que o livro avança, essa neutralidade emocional do personagem nos faz pensar no que esperamos das pessoas diante do sofrimento, da perda e do próprio sentido da vida. Por que exigimos lágrimas? Por que buscamos justificativas? O que realmente significa “sentir” uma experiência?


Apesar da frieza aparente, há algo profundamente humano no desconforto que Meursault provoca. Ele nos obriga a olhar para nossas próprias expectativas, nossos automatismos, nossas reações sociais, e para aquilo que escondemos quando pensamos na morte.


Foi uma leitura rápida, sim, mas que abriu espaço para reflexões grandes, quase incômodas. E talvez seja isso que faz desse romance uma obra tão marcante: ele não nos oferece respostas, apenas nos coloca diante do espelho, com toda a estranheza do mundo.

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